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PETER PAN

— Sim, é isso mesmo, confirmou dona Benta. Dormiram na casinha a primeira noite e depois outras. Durante toda uma semana os meninos não se afastaram dali. Estavam encantados com a mãezinha que Peter Pan lhes arranjara e Wendy estava igualmente encantada com os seus seis filhos. A felicidade naquele acampamento seria completa, se não fosse a tristeza em que havia caido a fada Sininho. Vivia sempre emburrada, escondida pelos cantos, sem coragem de falar com Peter Pan.

Mas tudo cansa. Ao fim da primeira semana Wendy mostrou vontade de sair a passeio pela floresta, ou algum outro lugar.

— "Poderemos ir á Lagoa das Sereias, propos Peter Pan. A nossa Terra do Nunca não possue unicamente coisas terriveis, como os piratas e os lobos famintos. Esse Lago das Sereias é lindo, lindo.

A ideia foi recebida com entusiasmo. Wendy e seus irmãozinhos só conheciam sereias de livros de figura. Sereias de verdade, com cauda de peixe e escamas, bem vivas e perigosas, nunca haviam visto nenhuma, por não ser criatura encontravel no jardim zoologico de Londres. Havia lá de tudo — hipopotamos, rinocerontes, leões, tigres, girafas, serpentes, ursos, foras — mas sereia, nenhuma.

— "Vamos, vamos ver as sereias! gritaram todos na maior alegria.

Num minuto fizeram-se os necessarios preparativos e lá se foram todos. Depois de longa viagem avistaram o grande lago verde-mar, em cujo fundo existia o palacio encantado das sereias. A's vezes todas elas subiam á tona para se pentearem ao sol, espalhadas pelos rochedos. Outras vezes só se via por ali uma ou outra. Quando os meninos chegaram á beira d'agua só viram uma.

— "Que beleza! exclamou Wendy, enlevada. Tal qual uma que vem pintada no meu livro de capa azul. Vejam como as escamas brilham ao sol! Parecem de prata...