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PETER PAN

a sereiazinha escorregou das unhas de Miguel e lá se foi para o fundo, tal qual a primeira.

— Que pena, vóvó! exclamou Narizinho. Todas as historias de sereias acabam sempre assim. Quando chega a hora de agarrar uma, acontece isto ou aquilo e elas escapam...

— Hei de fazer uma historia diferente, declarou Emilia. Uma historia onde todas as sereias sejam agarradas e amarradas e trazidas para a cidade dentro dum caminhão.

— Pois você errará, Emilia, se escrever uma historia assim, disse dona Benta. Alem de ser uma judiação arrancar do seu elemento criaturas tão lindas, essa pesca e essa trazida para a cidade em caminhão viria destruir a beleza e o misterio das sereias. Sabe o que acontecia? Os jornais da vam o retrato delas impresso em tinta preta (nos livros elas aparecem em lindas pinturas de cores macias); os sabios de oculos vinham estuda-las, isto é, abri-las com as suas facas chamadas bisturis para ver o que tinham dentro, e mil outros horrores. Não, Emilia. E' melhor que ninguem nunea pegue uma sereia — nem você, tão pouco. Na sua historinha, agarre a sereia, mas faça que ela escape no momento de entrar para o caminhão. Ficará muito mais poetica a sua historinha, garanto.

— Crédo! disse tia Nastacia. Os homens são tão malvados que até eram capaz de picar as coitadas em pedaços, para vender nos açougues lombo de sereia, entrecosto de sereia, rabo de sereia, miolo de sereia...

— Continue, vovó, pediu Pedrinho. A sereiazinha escapou e...

— E sumiu-se no fundo d'agua, indo avisar ás ontras; de modo que naquele dia não houve mais sereias na superficie do lago.

— E os meninos voltaram para a casinha de Wendy...