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PETER PAN
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— Não. Em vez de sereia apareceu ao longe um bote. Os piratas do Capitão Guncho, que haviam ancorado o seu navio a uns quilometros dali, agora vinham vindo de bote para o lado dos pegadores de sereias.

O perigo era grande e a meninada tratou de voltar para a praia quanto antes. O meio era um só — nadar, e pois lançaram-se á agua e nadaram para terra sem sequer volver os olhos para trás. Só Peter Pan se animou a fazer isso. Olhou e viu que Pantera Branca, a chefa dos indios Peles Vermelhas, vinha de pé na próa do bote, amarrada com cordas.

Peter Pan franziu a testa. Fazia assim sempre que tinha de resolver um problema urgente. Parece que com o tal franzimento de testa ele expremia o cerebro para que espirrasse dele alguma boa ideia. "Já sei, murmurou para si mesmo logo que desfranziu a testa. Os piratas derrotaram os indios e aprisionaram Pantera Branca, e agora vão abandona-la num rochedo, para que morra afogada pela maré.

Peter Pan tinha adivinhado. O bote dirigia-se para o rochedo onde estivera a sereia graude, com ordem do Capitão Gancho para largar ali a india, bem amarrada com grossas cordas.

— "Mas isso não pode ser! pensou consigo Peter Pan. Preciso salvar a pobre criatura, custe o que custar. Pantera Branca é nossa aliada e nossa amiga. Franziu de novo a testa e imediatamente espirrou de dentro do seu cerebro outra ideia muito boa.

— Qual foi? perguntou Pedrinho.

— Ele não disse, mas pelo que fez a gente adivinha. Peter Pan esperou atrás dum rochedo que o bote passasse perto, e em seguida mergulhou na agua e foi nadando até ficar bem debaixo da popa. Botou então a cabeça fóra d'agua e gritou em voz que imitava perfeitamente a voz de bebedo do Capitão Gancho: