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PETER PAN

— "Com seiscentos bilhões de caravelas, cortem já as cordas dessa india e soltem-na!

Os piratas estranharam semelhante ordem, pois era absurdo soltar, assim sem mais nem menos, uma inimiga que lhes custara tanto prender. Mas ordens do Capitão Gancho eram ordens; ninguem as discutia, sob pena de levar terriveis ganchadas no nariz. Não estavam vendo o chefe, mas a voz era dele. Nada mais lhes restava senão obedecer — e portanto cortaram as cordas da india e disseram-lhe: "Está livre. Faça o que quiser".

— E que é que ela quis? perguntou Emilia.

— Pantera Branca só quis uma coisa: ver-se bem longe daquela gente, e por conseguinte lançou-se á agua e foi nadando, melhor que um peixe, para onde estavam os meninos, lá na praia. Nisto Peter Pan notou que alguem vinha se dirigindo a nado para o bote dos piratas. Era o Capitão Gancho, que havia ficado sozinho no navio para contar um saco de moedas de ouro. Terminara o serviço e agora nadava a toda velocidade para ter o gosto de assistir á morte da pobre india.

— Estou imaginando a cara dele ao dar com o bote vazio! disse Pedrinho.

— Realmente. Quando chegou e soube do acontecido, encheu-se da maior colera da sua vida e avançou para os piratas para gancha-los a todos sem dó nem piedade. Eles, porém, não estiveram por isso, e atirando-se á agua fugiram ainda mais rapidos que a india.

Sozinho no bote, o Capitão Gancho tomou os remos e virou a proa para terra, vogando na direção onde via os meninos e a india. Sua ideia era recapturar Pantera Branca, aproveitando-se do extremo cansaço em que, depois de tantos padecimentos ela, devia estar.

Peter Pan, que já havia alcançado a praia, compreendeu o perigo. A india exausta mal podia consigo e fa-