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PETER PAN

reira existe um sistema de canos de agua quente que percorrem todos os quartos e salas e os mantêm na temperatura que se deseja.

— Basta, vóvó, disse a menina. Continue.

— Pois é como eu ia dizendo, continuou ela. Wendy deixou a caverna um brinco de asseio e ordem. Arranjou para os meninos uma cama larga e macia onde todos se arrumavam muito bem. Tambem arranjou um berço para o Miguel. Miguel não estava mais em idade de berço, mas Wendy era de opinião que não pode existir casa sem berço, e como ele fosse o mais criança, teve de representar o papel de bêbê. Esse berço não passava duma das cestas de apanhar peixe, arrumada entre duas estalactites.

Wendy não esqueceu nem sequer da sua terrivel inimiga Sininho. Arranjou para ela, num canto, um quarto de boneca, fechado com cortinas vermelhas e cheio de lindas coisas minusculas, proprias para uma fada daquele tamanhinho.

Cadeiras não havia na gruta, mas havia bancos feitos de chapeus-de-sapo, um para cada menino. Wendy e Peter Pan usavam uma poltrona especial, feita de duas enormes cabaças recortadas com muito jeito. Ali se sentavam juntinhos, como fazem os papais e as mamães que se querem bem.

Certo sabado á noite estavam todos muito ansiosos á espera de Peter Pan, que saira pela manhã numa expedição cinegetica.

— Páre aí, vóvó! berrou Pedrinho. Essa palavra esquisita me deixou tonto. Que vem a ser isso?

— Coisa muito simples, respondeu dona Benta. Cinegetico quer dizer relativo a caçada. Expedição cinegetica significa o mesmo que caçada.

— Mas se é tão simples dizer caçada, por que vem a senhora com essa terrivel complicação? observou Pedrinho, que era inimigo de palavras dificeis.