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PETER PAN
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— Para você perguntar e eu ter ocasião de ensinar uma palavra nova que ninguem aqui sabe. Neste mundo, Pedrinho, precisamos conhecer a linguagem das gentes simples e tambem a linguagem dos pedantes — senão os pedantes nos embrulham. Você já aprendeu o que é cinegetico e se em qualquer tempo algum sabio da Grecia quiser tapear você com um cinegetico, em vez de abrir a boca, como um bobo, você já pode dar uma risadinha de sabidão.

— Vou aplicar este cinegetico já e já, disse o menino, entusiasmado.

Tia Nastacia, que saira para ferver a agua do chá, vinha entrando.

— Sabe, tia Nastacia, que amanhã vou fazer uma expedição cinegetica?

A palavra tonteou a negra, fazendo-a piscar tres vezes.

— Cine, o que?

— Getica, concluiu Pedrinho. Ci-ne-ge-ti-ca!...

Tia Nastacia arregalou os olhos, sem perceber coisa nenhuma. Depois, voltando-se para dona Benta, disse:

— Não deixe ele ir, sinhá. Não sei o que isso é, mas coisa boa não ha de ser. Não deixe, sinha.

Todos se riram da pobre preta.

— Vê, Pedrinho, como é hom saber? Essa mesma cara de espanto você faria, se ouvisse tal palavra antes da minha explicação. Já agora, em vez de ser bobeado, você bobeia os outros. Está compreendendo a grande vantagem de saber?

— Chega de gramatica, vovó, protestou a menina. Vamos á historia. Os meninos estavam á espera de Peter Pan. E depois?

— Pois é. Os meninos estavam á espera de Peter Pan, que saira á caça, e em cima da morada subterranea Pantera Branca e seus indios montavam guarda.