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PETER PAN
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que não os abandonasse. Tinham-se acostumado a ter mãe e não suportariam a antiga vida de orfãos.

— "Quem está falando em abandonar vocês? respondeu Wendy. Vão todos comigo, está claro, e toda a vida moraremos juntos, lá em casa.

Os meninos perdidos, felizes como passarinhos, deram saltos de alegria. Que bom! Que bom! Que bom! Iam ter uma verdadeira mãe, grande e perfeita, como era a senhora Darling. Iam viver numa casa linda e andar como todos os meninos da cidade andam.

— "Viva! Viva Wendy! gritaram.

— SÓ Peter Pan resistiu á tentação. Sentia imensamente perder Wendy e seus irmãozinhos, mas não podia admitir a ideia de voltar ao mundo donde fugira logo ao nascer — o horrivel mundo onde os meninos crescem e viram homenzarrões bigodudos e feios. Jamais faria isso. Jamais desertaria a Terra do Nunca a terra onde os meninos não crescem. Os outros que fossem. Ele ficaria sozinho.

Combinado assim, começaram todos a aprontar-se, na maior halburdia e gritaria. Cada qual fez a sua trouxinha, pondo nela os brinquedos e as lembranças mais queridas. Bicudo levou um morcego seco, que desejava mostrar para a senhora Darling.

— Crédo! exclamou tia Nastacia, fazendo cara de horror. Essa ideia só mesmo dum Bicudo. Morcego seco, vejam só...

— Antes morcego seco que morcego vivo, disse Emilia. Eu tenho medo das coisas vivas porque mordem; mas das secas, não. E Levemente-Estragado, que é que levou, Dona Benta?

— Não sei. O livro não diz. Mas com certeza levou uma bobagem do mesmo naipe — um rato seco, por exemplo. Todas as crianças se impressionam muito com bichos secos. Pedrinho, quando contava apenas quatro anos de idade, apareceu-me um dia na sala de jantar