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PETER PAN

com um horrendo gato seco, que empestou a casa inteira. Lembra-se, Pedrinho?

Tia Nastacia lembrava-se muito bem, mas o menino não.

— Continue, vóvó, pediu Narizinho.

— Depois de arranjados os presentes para a senhora Darling, Wendy despediu-se de Peter Pan. Abraçou-o e disse, com os olhos humidos de lagrimas:

— "Minha ultima recomendação é que você não deixe de tomar o seu remedio na hora certa. Veja lá, hein?

Referia-se a um remedio que Peter Pan estava tomando para curar-se das terriveis ganchadas do Capitão Gancho.

Iam partir. Nisto lhes chegou aos ouvidos um barulho lá fóra, bem em cima da caverna subterranea. Que seria? Os meninos ficaram imoveis, á escuta. Barulho de guerra. Ouvia-se distintamente o choque das armas, o assobio das flechas, o rumor dos tombos, os gritos dos machucados. Peter Pan compreendeu logo que os piratas haviam assaltado os indios de surpresa.

— "Se os Peles Vermelhas sairem vencedores, não deixarão de tocar o tam-tam, disse ele e ficaram todos atentos, á espera do toque do tam-tam, sinal de vitoria entre os indios.

A batalha não durou muito tempo. Como de costume, os Peles Vermelhas foram completamente derrotados, fugindo como lebres. Mas dentro do subterraneo os meninos não podiam saber disso, de modo que continuaram de ouvidos atentos, á espera do tam-tam.

Afugentados os indios, o Capitão Gancho resolveu aproveitar-se da oportunidade para dar cabo dos meninos naquele mesmo dia. Ele tinha estado uma porção de tempo a escutar pelo chapeu-de-sapo que servia de chaminé (Peter Pan havia construido um outro para substituir o que fora destruido pelo pontapé do pirata), e pôde ouvir uma boa parte da conversa dos meninos, inclusive o pedaço em que Peter Pan falou do tam-tam.