Página:Peter Pan (Lobato, 1935).pdf/78

Wikisource, a biblioteca livre
PETER PAN
83

lá em cima, impacientava-se com a demora dele. Havia apanhado todos os meninos, menos justamente o principal.

— "Querem ver que ainda desta vez o raio do tal menino me escapa? murmurou Gancho consigo.

Por fim, vendo que Peter Pan não saia mesmo, o chefe dos piratas pensou, pensou, pensou, para ver se lhe ocorria uma ideia que valesse a pena. Estudou a situação. Entrar pelo ôco, impossivel. As aberturas eram muito estreitas para um cavalão da sua marea. Porta para arrombar não existia. Que fazer? O Capitão Gancho coçava a cabeça, indeciso.

Lembrou-se de espiar pela chaminé. Dava jeito. Viu o menino estirado na cama e, num caixão, á sua cabeceira, o vidro de remedio que Wendy pusera ali.

— "Já sei! esclamou o bandido, iluminado por uma ideia infernal. Derramo umas gotas de veneno naquele vidro e pronto! Otima lembrança.

Assim fez. Por meio dum canudinho enfiado pela chaminé, achou jeito de pingar dentro do vidro de remedio (que estava desarrolhado) seis gotas do peor veneno que existe. Em seguida retirou-se, tomando caminho do seu navio, muito contente da vida, a esfregar as mãos.

— Como? inquiriu Emilia. Se ele só tinha uma, como poderia esfregar as mãos?

— Isto é um modo de falar, explicou dona Benta. Quando queremos dizer que Fulano saiu muito contente, costumamos usar dessa expressão — "Saiu esfregando as mãos", embora o tal Fulano nem mãos tenha. São modos de dizer.

— Continue, vóvó. Não perca tempo com esta boba, disse Narizinho.

— Pois é. O Capitão (ancho envenenou o remedio de Peter Pan e lá se foi para o seu navio, muito contente da vida. Foi certo de que o menino tomaria o remedio e morreria a peor das mortes.