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PETER PAN

Peter Pan, sozinho na caverna subterranea, não conseguia dormir. Pensamentos tristes es voaçavam pela sua cabeça, como morcegos. Fechava os olhos com toda a força, contava até mil — e nada. Nada do sono chegar. De repente, viu uma claridade. Era a fada Sininho que chegava, mas tão aflita que vinha atrapalhando os tlins-tlins todos.

— "Que ha, Sininho? perguntou ele, erguendo-se da cama.

A bola de fogo narrou a grande desgraça acontecida aos meninos, que estavam naquele momento encarcerados no escuro e sujissimo porão do navio dos piratas. Peter Pan, num pulo de tigre, correu ao rebolo para amolar as suas armas. Deixou a espada que nem navalha e fez no seu punhal de guerra uma ponta fina como a das agulhas. Estava ocupado nisso quando notou que bola de fogo principiava a empalidecer. Assustou-se.

— "Que é que você tem. Sininho? perguntou ele, inquieto — e quasi nem pôde ouvir a resposta, de tão fracos que soa vam os tlins-tlins da pequenina fada.

Sininho estava morrendo. Percebera que o remedio de Peter Pan tinha sido envenenado e o bebera, com a ideia de o salvar. Sacrificara-se por ele, a coitadinha.

— Por que? Não entendo, disse Narizinho.

— Sininho havia refletido que se o avisasse de que o remedio estava envenenado. Peter Pan não acreditaria, supondo que Sininho não queria que ele bebesse o remedio só por ter sido preparado por Wendy. E resolveu então beber o remedio antes que ele o tomasse.

Ao ver que a sua querida fada se ia extinguindo, Peter Pan sentiu uma dor infinita. Perder Sininho era-lhe peor do que perder a propria vida. Precisava salva-la, custasse o que custasse. Mas como?

Peter Pan franziu a testa com toda a força e teve imediatamente uma grande ideia. Subiu pelo ôco e lá, fóra,