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PETER PAN
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— "Viva! Viva! gritaram todos os meninos, como se fossem um só.

Dar vivas ao rei da Inglaterra nas fuças do Capitão Gancho era o maior atrevimento do seculo. O chefe dos piratas espumou de colera, e ordenou que amarrassem Wendy ao mastro grande, donde teria de assistir á morte de todos os meninos, um por um. Assim foi feito e a corajosa menina lá ficou, que nem uma Joana Darc, no seu vestidinho cor de ouro velho e de chale ao pescoço.

Ia começar a matança. Os piratas trouxeram as pedras de afogar prisioneiros. O Capitão Gancho sorria com ar de delicias. Para aquele monstro, o maior prazer da vida era ver afogar prisioneiros.

Subito, o seu sorriso diabolico transformou-se em careta de terror. Um famoso tic-tac, muito seu conhecido, soara perto.

— "O crocodilo! exclamou ele, dando um pulo e indo esconder-se no fim do navio, atrás duma pilha de cordas. Os demais piratas para lá tambem correram, cercando o chefe com uma muralha de corpos. Os meninos, de respiração suspensa, ficaram á espera de ver o crocodilo surgir.

Mas não surgiu crocodilo nenhum. Em vez da féra apareceu na beira do navio a carinha de Peter Pan. Fez aos meninos sinal de bico calado e entrou á moda dos indios, agachado, de jeito que os piratas nada vissem. Trazia atravessado na boca o seu terrivel punhal e na mão direita, um despertador. O tic-tac que tanto apavorara o Capitão Gancho não era do crocodilo...

Peter Pan esgueirou-se pelo chão, feito cobra, e penetrou numa cabina, dentro da qual se fechou.

Tendo cessado de ouvir o tic-tac, o Capitão Gancho virou valente outra vez. Voltou ao trono, dando ordem para que se começasse a matança dos prisioneiros.

— "Vamos, comecem! gritou ele.