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PETER PAN
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— E eles se acostumaram com a nova vida?

— Custou um pouco. No fim da primeira semana já estavam arrependidos e com saudades de Peter Pan. A senhora Darling percebeu isso e, com medo que fugissem, pôs a Nana no quarto, a tomar conta deles. Cada vez que faziam menção de voar, Nana latia. Por fim como fossem perdendo aquela faculdade de voar, não pensaram mais em fugir. Certa vez em que Assobio trepou á cama, ergueu os braços e experimentou voar, esborrachou-se no tapete, tal qual Miguel no primeiro dia.

— Bem feito! exclamou Emilia. Quem manda...

— Quem manda o que, Emilia? Você parece idiota...

— Quem manda trocar a mais linda das terras, terra de piratas, de lobos famintos, de indios que fogem como lebres, de sereias de casca de prata, por essa sengracice que deve ser Londres? Bem feito. Bem feitissimo.

— Eu tambem penso assim, disse Pedrinho. No dia em que me pilhar na Terra do Nunca, será para sempre. Ando enjoado deste mundo.

— E tinha coragem de deixar aqui a sua avó? perguntou dona Benta.

— Isso, não. Levava a senhora tambem. Levava todos. Mudava o sitio para lá...

— Continue, vovó, pediu a menina. Que aconteceu depois?

— Depois? Nada. Isto é, nada durante um ano. Quando no outro ano chegou a primavera, Peter Pan apareceu para levar Wendy e os meninos á Terra do Nunca. Encontrou-os já bastante crescidos, como era natural. Só ele se conservara do mesmo tamanhinho.

Wendy estava ansiosa de recordar as passadas aventuras, mas Peter Pan fingia não lembrar-se de nada e só falava de novas proezas, que a menina desconhecia. Quando ela se referiu ao Capitão Gancho, Peter Pan fez cara de ponto de interrogação.