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PETER PAN

todos. A casa não era muito espaçosa, mas havia de dar jeito de acomoda-los muito bem.

A unica dificuldade foi com Peter Pan. Embora tivesse gostado muito da senhora Darling, o estranho menino de modo nenhum se resignava á ideia de ficar morando num mundo onde as crianças crescem e viram desenxabidissimas gentes grandes.

— "Não posso ficar, disse ele. Não acho graça em crescer. Vou voltar para minha querida Terra do Nunca, onde viverei sozinho com as fadas.

E depois :

— "Mas ficarei muito contente se Wendy e os meninos forem todos os anos passar comigo uma semana da primavera. A senhora consente?

A senhora Darling vacilou, mas como a meninada batesse palmas e fizesse uma enorme gritaria, exigindo o seu sim, ela não teve remedio — consentiu.

— "Muito bem, disse. Fica assentado isso. Todos os anos, pela primavera, Wendy e os meninos irão passar uma semana inteira na Terra do Nunea. Está satisfeito?

Começaram as despedidas. Peter Pan fez uma recomendação a cada qual dos seus antigos companheiros e beijou Wendy na testa. Depois, prrrr !... lá se foi pelos ares. Ia triste e alegre ao mesmo tempo. Triste por ter perdido a companhia de Wendy, e alegre por ter resistido á tentação de virar um menino como qualquer outro — dos que crescem, criam buço e depois bigode, e acabam "adultos", ou gente grande. Não, não e não. Havia de conservar-se menino sempre.

— E que aconteceu depois? quis saber Narizinho.

— A senhora Darling a primeira coisa que fez foi vestir decentemente os meninos perdidos. Estavam todos enfiados em roupas de piratas e ainda com cheiro da Hiena do Mar. Lavou-os, penteou-os, mandou cortar-lhes o cabelo e por fim os botou na escola.