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Terra! — terra! — bradou—e era uma nuvem!
     E corre, corre o nauta
Avante pelo paramo das ondas;
No profundo horizonte os olhos avidos
Ancioso embebe; — ai! que só divisa
     Ermos céos, ermas ondas....
O desalento já lhe côa n’alma;
Oh! não; eis nos contins lá do oceano
     Um monte se desenha;
Não é mais illusão — já mais distincto
Surge acima das ondas — oh! é terra!
Terra! — terra! — bradou; era um rochedo,
Onde as ondas batendo eternamente
     Rugindo se espedação.

Eis do nosso passar por sobre a terra
Em breve quadro uma fiel pintura;
E’ a vida oceano de desejos
     Intermino, sem praias,
Onde a esmo e sem bussola boiamos
Sempre, sempre com os olhos enlevados
Na luz d’esse fanal mysterioso,
Que alma esperança mostra-nos sorrindo
     Nas sombras do porvir.