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O meu pobre alaúde affeito ao pranto;
Oh! não...porque no vaso de meu peito
Sem seiva, a flôr suave dos amores
Inclinou murcha o mavioso calix.

  E nem vão elles nos jardins da gloria
Colher-me o sacro louro do poeta,
Aureola fatal, que tantas vezes
Sobre a fronte que a cinge o raio chama.

  Qual leve aroma que da flôr se exhala,
E por momentos embalsama os ares,
Depois se esvae, se perde, — assim meus cantos
Talvez acabaráõ; — e a lyra ingloria
Se quebrará na pedra do meu tumulo
Sem mandar ao porvir um écho ao menos.

  Ide pois, cantos meus, voai azinha;
Ide; vossa missão é pura e santa;
Desdobrai sem receio as azas candidas
Na esphera azul; — transponde rios, serras,
Profundos valles, plainos e florestas,
E onde virdes retiro ameno e lédo,
Como que d’este mundo separado
Por altos serros, que alcantis corôão,