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Casto asylo soidoso, onde não chegão
O importuno alvoroço, os vãos rumores
Das procéllas do mundo; — aonde virdes
De hirsuto monte nas virentes faldas,
Formoso alvergue branquejar risonho
Por entre a escura rama dos pinheiros,
Como um floco de neve, que dos montes
Rodou sobre o verdor do valle ameno,
Ahi pousai; — n’esse escondido asylo,
Caro a meu coração, vive um amigo
No remanso dos ermos procurando
Sereno curso p’ra seus velhos dias,
E olvido para as mágoas do passado.
Na vasta sombra d’esse tronco annoso
Provado já em tormentosas lutas,
Um dia minha fragil juventude
Foi abrigar-se; — e placida guarida
Meus dias foragidos encontrárão.
Sorrindo da tormenta, eu contemplava
Em luta com os tufões ranger-lhe o tronco,
E no tope sublime a tempestade
Passar rugindo sem vergar-lhe o collo;
E abençoava o céo, que em meu deserto
Me mostrou sua sombra hospitaleira.