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Corta o duro machado erguido tronco,
Mas vejo sempre pullular vergonteas;
Diques forçosos contra o mar se elevam,
Mas além d’elles delphins mansos nadam.
Pode mais do que as leis a Natureza,
Pratica o mundo só o que ella dicta;
Faz-se escondida em quanto a não descobrem;
Eu subtil mestre a descobril-a ensino.
Ah! não me chamem críticos austeros
Dos bons costumes corruptor profano!
Ah! não me mande Cesar irritado
No frio Euxino a viver c’os Getas.
Outra cousa não faz duro colono
Com liso arado, quando rompe a terra:
Dura codêa o calor nativo impede,
O ferro a rasga, e o calor transpira.


III


Vós, mancebos, correi, correi ligeiros
Do Tibre ás margens ferteis, e mimosas:
Tão immoveis me ouvi; mas não tão surdos;
Direi primeiro como Amor se enlêa,
Depois como se faz propicia Venus.
Tu, oh Jove immortal, tu pae dos deuses,
Sabio me inspira, que não basta Apollo.
É verde louro fugitivo Daphne,
Amor ingrato do queixoso Phebo:
Tu, selvatico filho de Saturno,
Só tu não temes desdenhosas iras: