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Mas que novo segredo Amor me inspira!
Que sabias regras, que preceitos novos!
Filho de Venus, e de Marte filho,
De teus altos mysterios serei vate!
Forma novos oraculos em Cypro;
Por elles tenha esquecimento Delphos.
Namorado mancebo, Amor te fala,
Ouve com filial respeito as vozes.
Posto que tu na scena Doris ouças,
Altos prodigios, maravilhas novas,
A voz soltando bella, e sonorosa
Com que suspenda sybillantes ventos,
Não pasmes, nunca chores, ser não queiras
Réo desditoso de tão negro crime;
Cheia Tyrse de inveja, não perdoa,
Mais depressa seria o mar estavel.
A nação feminil sustenta sempre
Entre si crua sanguinosa guerra:
Inda no berço brandamente dorme,
Inda c’o leite maternal se nutre,
Já da cova sombria o negro monstro
Que come verdes enroscadas serpes,
Salta com Venenosa lingua, e lambe
Seu terno peito, seu formoso rosto;
Na bocca lhe vomita cru veneno,
Que para o brando coração lhe corre,
E nas vêas subtis introduzido,