Saltar para o conteúdo

Página:Poesias eroticas, burlescas e satyricas.djvu/61

Wikisource, a biblioteca livre
57

C’o rubro sangue lhe circula, e pulsa;
Não só familias com familias rompem
A paz benigna, que na terra expira;
Entre as mesmas irmãs se accende a guerra,
Por isso é hoje negro seixo Aglaura.
Até nos céos o vago monstro gira,
Minerva, e Juno fez rivaes de Venus;
Não caíram troyanos altos muros,
Só porque Paris foi roubar Helena!
Mil adulteros tinham sem castigo
Furtado esposas, maculado leitos:
No pomo da Discordia veiu envolta
A faisca fatal, que abrasou Troya.


XI


Com tudo, posto que raivosas todas
Entre si mutuamente se enfureçam,
Mancebo, não presumas que sem pena
Vejam de amor qualquer irmã queixosa.
Não houve nympha nos Thessalios campos
Que não movessem tristes queixas d’Eccho;
Só Lyriope vê com dôr Narciso,
Em branca flor Narciso as nymphas gostam:
Quando o monstro voraz, que sae dos mares
Só contra o filho de Theseo famoso,
Quando os frisões medrosos se perturbam,
Ligeiros se embaraçam, quebram redeas,
Hyppolito gentil por terra lançam,
Raivosos seu formoso corpo pizam;