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alzira a olinda

Benignas emoções chamam flagicios,
Que infernaes penas castigar costumam:
Sem que atinem o modo por que devam
Tornal-as puras, e do crime alheias,
Porque do crime o amor não diff′renceam,
Amor e crime o mesmo lhes figuram.
Ah! que de um pae o emprego não tolera
Maximas impostoras, vis idéas
Que religião não soffre, e que forcejam
Para c′oa religião auctorisal-as.
Saiba-se pois té onde o culto, a honra
De um Deus se estende, e quaes limites devem
Marcar-se ás impressões da natureza:
Em vez de aferrolhar as tristes filhas,
Busquem mostrar-lhes da virtude a senda,
Do vicio a estrada com disvello attento.
Pois que impureza e amor um rumo seguem
Consiste o mal ou o bem na escolha d′este.

Sim, cara Olinda: como tu, eu propria
Falta da sociedade, porque n′ella
Viam meus paes o escolho da innocencia,
As mesmas emoções senti outr′ora;
Nos ternos annos teus então zombavas
Do que nem mesmo decifrar podias.
Quantas vezes meu coração ás claras
Te descobri, querida; e quantas vezes
O meu desassocego não provando,
Rias dos sentimentos, que em minh′alma
Entranhados estavam, sem que a causa
D′elles jámais me fosse conhecida?