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Um pi­ncaro grani­tico, açoutado
Pelas azas do vento e ennegrecido
Por chuvas e por soes. Para ameigar-te
Este ar humido e gelido a segure
Não foi ferir do bosque o rei. Do estio
No ardor canicular nunca disseste: —
Dáe-me, sequer, do bravo medronheiro
O despresado fruct­o! O teu vestido
Era o musgo, que tece a mão do inverno,
E Deus creou para trajar as rochas.
Filha do céu, o céu era o teu tecto,
Teu escabelo o dorso da montanha.
Tempo houve em que esses braços te adórnava
C’roa viçosa de gentis boninas,
E o pedestal te rodeiavam preces.
Ficaste em breve só, e a voz humana
Fez, pouco a pouco, juncto a ti silencio.
Que te importava? As arvores da encosta
Curvavam-se a saudar-te, e revoando
As aves vinham circumdar-te de hymnos.
Affagava-te o raio derradeiro,
Frouxo do sol ao mergulhar nos mares,
E esperavas o tumulo. O teu tumulo
Devera ser o seio destas serras,
Quando, em génesis novo, á voz do Eterno,