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Aos rochedos alpestres, que não sentem,
Nem sentir podem teu gemido inutil?
Tua dôr, teu prazer existem, passam,
Sem porvir, sem passado, e sem sentido.
Nas angustias da vida, o teu consolo
O suicidio é só, que te promette
Rica messe de goso, a paz do nada! —
E ai de ti, se buscaste, emf­im, repouso,
No limiar da morte indo assentar-te!
Alli grita uma voz no ultimo instante
Do passamento: a voz atterradora
Da consciencia é ella. E has-de escuta-la
Mau grado teu: e tremerás em sustos,
Desesperado aos céus erguendo os olhos
Irados, de través, amortecidos;
Aos céus, cujo caminho a Eternidade
Co’a vagarosa mão te vai cerrando,
Para guiar-te á solidão das dôres,
Onde maldigas teu primeiro alento,
Onde maldigas teu extremo arranco,
Onde maldigas a existencia e a morte.


XXVII.


Calou tudo no templo: o céu é puro,