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A tempestade ameaçadora dorme.
No espaço immenso os astros scintillantes
O Rei da creação louvam com hymnos,
Não ouvidos por nós nas profundezas
Do nosso abysmo. E aos cantos do Universo,
Ante milhões de estrellas, que recamam
O firmamento, ajunctará seu canto
Mesquinho trovador? — Que vale uma harpa
Mortal no meio da harmonia etherea,
No concerto da noite? Oh, no silencio,
Eu pequenino verme irei sentar-me
Aos pés da Cruz nas trévas do meu nada.
Assim se apaga a lampada nocturna
Ao despontar do sol o alvor primeiro:
Por entre a escuridão deu claridade;
Mas do dia ao nascer, que já rutíla,
As torrentes de luz vertendo ao longe,
Da lampada o clarão sumiu-se, inutil,
Nesse fulgido mar, que inunda a terra.