Página:Primeiras trovas burlescas de Getulino (1904).djvu/153

Wikisource, a biblioteca livre
— 149 -

Que só forjam sacrilegos tyrannos,
Dorme o somno feliz da eternidade.

Não cercam a morada luctuosa
Os salgueiros, os funebres cyprestes,
Nem lhe guarda os humbraes da sepultura
Pesada lage de espartano marmore,
Sómente levantando em quadro negro
Epitaphio se lê, que impõem silencio !
— Descançam n’este lar caliginoso
O misero captivo, o desgraçado !...

Aqui não vem rasteira a vil lisonja
Os feitos decantar da tyrannia,
Nem offuscando a luz da san verdade
Eleva o crime, perpetua a infamia.

Aqui não se ergue altar ou throno d’ouro
Ao torpe mercador de carne humana,
Aqui se curva o filho respeitoso
Ante a lousa materna, e o pranto em fio
Cahe-lhe dos olhos revelando mudo
A historia do passado. Aqui nas sombras
Da funda escuridão do horror eterno,
Dos braços de uma cruz pende o mysterio,
Faz-se o sceptro bordão, andrajo a tunica,
Mendigo o rei, o potentado escravo!