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QUINCAS BORBA

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QUINCAS BORBA

— Sim, foi isso, pensou elle ao cabo de alguns minutos, o portador da minha carta trouxe esta, e deixou-a cair. E, mirando a carta, de um e outro lado, perguntava-lhe pelo conferido. Oh! o conteúdo! Que iria alli escripto dentro daquelle papel homicida? Perversidade, luxuria, toda a linguagem do mal e da demência, resumidas em duas ou três linhas. Ergueu-a ante dos olhos, para ver se podia ler alguma cousa; o papel era grosso; não se podia ler nada. Ao lembrar-se que o portador, dando por falta da carta, voltaria a procural-a, metteu-a atrapalhadamente no bolso, e correu para dentro. Em casa, tirou-a e mirou-a outra vez; as mãos hesitavam, reproduzindo o estado da consciência. Se abrisse a carta, saberia tudo. Lida e queimada, ninguém mais conheceria o texto, ao passo que elle teria acabado por uma vez com essa terrível fascinação que o fazia penar ao pé daquelle abysmo de opprobios... Não sou eu que o digo, é elle; elle é que junta esse e outros nomes ruins, elle é que pára no meio da sala, com os olhos no tapete, em cuja trama figura um turco indolente, cachimbo na boca, olhando para o Bosphoro... Devia ser oBosphoro.