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Página:Resurreição (sic) - romance.djvu/173

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amargamente. Concentraste então toda a seiva do teu coração, neste amor silencioso e quimérico? Não digas isso; amarás mais tarde a outro que te amará também, e serás feliz, creio eu. Murchará esta primeira flor do teu coração, mas, há seiva nele para dar vida a outra flor, tão bela talvez, e com certeza mais afortunada. O contrário, Raquel, seria injustiça de Deus. O amor é a lei da vida, a razão única da existência. Encher de uma só vez a alma, sem que ninguém lhe beba o licor divino, e regressar ao Céu sem ter conhecido a felicidade na Terra, nem o quererá Deus, nem o temerás tu. Falas pela boca da tua amargura de hoje; espera a ação do tempo, que é bom amigo.

Raquel meditava. Era a primeira vez que ela ouvia falar daquele modo em coisas do coração. A linguagem da viúva servia-lhe a um tempo de consolação e de luz.

Lívia falou ainda muito tempo, sem preconceito nem reserva; não falou como rival, senão como amiga e mãe. Não reparava sequer que lhe dava armas contra si. Falaria talvez de outro modo se se considerasse feliz; mas, como a situação de ambas era igual, ela