Batiam oito horas quando ele acordou e abriu as janelas. O dia estava triste. Caía uma chuva fina e constante, que havia começado pouco antes dos primeiros albores da manhã. Que lhe importava a ele a melancolia da natureza, se tinha dentro da alma uma fonte de inefáveis alegrias?
Assentou-se à escrivaninha, e durante duas horas fez o inventário da sua vida de solteiro, rasgando com indiferença uma imensidade de cartas que lhe lembravam afeições extintas ou simples relações passageiras. Varria o templo em que devia entrar a escolhida de seu coração. Quando relia algumas dessas epístolas, — folhas caídas da estação que se fora, — desenhava-se-lhe nos lábios um sorriso irônico, mas tranqüilo, tal era a transformação de sua alma já indiferente às lutas do passado.
Às dez horas levantou-se para almoçar. Acabava de sentar-se à mesa quando lhe vieram dizer que uma pessoa o procurava.
Era o Dr. Luís Batista.