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KOSMOS

circumstancia que, torna muito duvidosa a equivalencia do corpo mediano dos Malacostraceos, com a secção do corpo nos Copepodes que traz as patas hadadoras e, nos Cirripedes os cirros.

A comprehensão das patas do corpo posterior e cauda, em um unico corpo (como «falsas patas abdominaes» ou «pleopoda») parece injustificavel.

Quando ha uma metamorphose, ellas são, provavelmente sempre, produzidas em periodos diversos e são, quasi sempre, inteiramente diversas em estructura e em funcção. Mesmo nos Amphipodes, em que as patas caudaes commumente se assemelham em apparencia aos dous ultimos pares de patas abdominaes, ellas se distinguem, em geral, por alguma sorte de particularidade e, emquanto as patas abdominaes são reproduzidas em fatigante uniformidade, em toda a ordem, as patas caudaes estão, como é bem sabido, entre as mais variaveis patas dos Amphipodes.


O numero similar de segmentos que occorrem nos Carangueijos e Macruros, Amphipodes e Isopodes, em que, os sete ultimos segmentos são sempre diversos dos precedentes, nos appendices com os quaes elles são providos, poderiam apenas ser encarados como uma herança dos mesmos antepassados. E se no presente, a maioria dos Carangueijos e Macruros e realmente, os Crustaceos podophthalmos em geral, passam pelos estados evolutivos Zoeiformes e, o mesmo modo de transformação deva ser attribuido aos seus antepassados, a mesma cousa deve se dar, se não com os immediatos dos Amphipodes e Isopodes, ao menos com os progenitores communs destes e dos crustaceos podophthalmos.

Uma tal supposição éra, no emtanto, muito Ousada, tanto mais quanto nem um unico facto, propriamente relativo aos Edriophthalmos, podia ser adduzido á seu favor; e a estructura deste mui coherente grupo, parecia ser quasi irreconciliavel com muitas peculiaridades das Zoeas. Assim, aos meus olhos, este ponto constituiu, por muito tempo, uma das principaes difficuldades, na applicação das vistas de Darwin aos Crustaceos; e eu mal ousava esperar que eu pudesse, comtudo, encontrar traços d'essa passagem pela forma de Zoea, nos Amphipodes ou Isopoles e, assim, obter uma prova positiva da verdade d'esta conclusão.

Neste ponto, a affirmativa de Van Beneden, de que um Isopode provido de chelipedes (Tanais dulongii), pertencente, segundo Milne Edwards, á mesma familia que o commum Asellus aquaticus, possuia uma carapaça como os Decapodes, attraiu a minha attenção para estes animaes; e um exame cuidadoso, provou que estes Isopodes haviam conservado, mais realmente que quaesquer outros crustaceos adultos, muitas das essenciaes peculiaridades das Zoeas, especialmente o seu modo de respiração.

Emquanto, em todos os outros Oniscoides, as patas abdominaes servem para a respiração, os do nosso Isopode chelifero (fig. 2) são unicamente orgãos motores, nos quaes não entra mesmo um unico globulo sanguineo; e a principal séde da respiração está, como nas Zoeas, nas partes lateraes da carapaça que, são abundantemente banhadas por correntes sanguineas e sob as quaes passa uma corrente constante de agua, mantida, como nas Zoeas e nos Decapodes adultos, por um appendice do segundo par de maxillas que, falta em todos os outros Edriophthalmos.

Deve ser notado, de passagem que, em ambas estas descobertas, a sciencia deve menos á um acaso feliz, do que immediatamente á theoria de Darwin.

Fig. 2 — Tanais dubius (?) Kr. ; femea augmentada cerca de 70 vezes, mostrando o orificio da entrada (x) para a cavidade respiratoria recoberta pela carapaça e na qual funcciona um appendice do 2.º par de maxillas (f). Sobre as 4 patas (i, k. l. m.) estão os rudimentos das laminas que subsequentemente formam a cavidade proligera.