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KOSMOS

ções. O nosso Tanais vive dentro de confervas densamente entrelaçadas que, formam um revestimento de cerca de uma pollegada de es pessura, sobre as pedras visinhas das praias. Se um punhado deste verde feltro é collocado dentro de um vidro com agua do mar limpa, ver-se-ha as paredes do vaso immediatamente cobertas, por centenas senão milhares, d'este pequeno, roliço e esbranquiçado Isopode. D'esta maneira examinei milhares d'elles com uma simples lente, assim como muitas centenas com o microscopio, sem achar differença alguma entre as femeas ou, qualquer forma intermediaria entre as duas formas de machos.

Para a velha escola, esta occurrencia das duas formas de machos, pareceria ser, méramente, uma questão de curiosidade. Para os que encaram o «plano de creação» como a «concepção livre de um intellecto Todo-Poderoso, amadurecida nos pensamentos do ultimo, antes de ser manifestada em formas palpaveis, externas», seria um méro capricho do Creador, visto como ella é inexplicavel, tanto do ponto de vista de adaptação pratica, como do «plano typico de estructura».

Do lado da theoria de Darwin, ao contrario, este facto adquire sentido e significação; e manifesta-se, em troco, apropriado á derramar luz sobre uma questão em que, Bronn vio «a primeira e a mais material objecção, contra a nova theoria isto é, como é possivel, do accumulo, em varios sentidos, das mais ligeiras variações, procedentes umas das outras, a producção de variedades e especies que, partem da forma primaria tão clara e frisantemente, como a folha peciolada de uma dicotyledonea; e não se amalgamam á forma primaria e entre si, como os lobos irregulares e retorcidos de um Lichen foliaceo.

Supponhamos que os machos do nosso Tanais, até aqui identicos em estructura, começassem á variar em todas as direcções, como Bronn pensa, indefinidamente. Se a especie estava adaptada á sua condição de existencia, se o melhor á este respeito havia sido attingido e, garantido, por selecção natural, as variações novas, affectando a especie como uma especie, seriam retrogradações e, assim, não haveria perspectiva de predominancia. Deveriam, antes, desapparecer outra vez, assim como se haviam elevado; e os róes ficariam abertos aos machos variantes, sómento no sentido das suas relações sexuaes. N'estas, elles poderiam adquirir vantagens sobre os seus rivaes, quando fossem capazes, quer de procurar, quer de melhor subjugar as femeas. O melhor farejador venceria todos os que lhes fossem inferiores n'este respeito, ao menos que os ultimos tivessem outras vantagens, taes como chelipedes mais poderosos, para lhes oppor. Os providos de melhores chelipedes, sobrepujariam todos os campeões menos fortemente armados, á menos que estes lhes oppusessem alguma outra vantagem, tal como sentidos mais desenvolvidos. De tal modo comprehender-se-ha facilmente, como todos os estados intermediarios menos favorecidos no desenvolvimento de filamentosolfactivos ou de chelipedes, deveriam desapparecer das listas e duas formas frisantemente definidas, os mais aperfeiçoadamente farejadores e armados, deveriam permanecer como os unicos adversarios. Até o presente, o combate parece ter se decidido em favor dos ultimos, pois que elles occorrem em numero grandemente preponderante, talvez de uma centena para cada farejador.

Voltando á objecção de Bronn. Quando elle diz que «para base da theoria Darwinista e á fim de explicar porque muitas especies não coalescem por meio de formas intermediarias, quereria, com todo o prazer, descobrir algum principio externo ou interno que, podesse compellir as variações de cada especie, á progredir n'uma direcção, em vez de méramente permittil-as em todas as direcções», podemos, n'este como em muitos outros casos, encontrar tal principio, no facto de que actualmente só permanecem abertas poucas direcções, nas quaes as variações são ao mesmo tempo aperfeiçoamentos e nas quaes, por isso, ellas podem se accumular e se tornar fixas; emquanto que em todas as outras, indifferentes ou nocivas, ellas devem sumir-se tão promptamente como vieram.

Fig. 7 — Orchestia darwinii, n. sp. — macho.

A occurrencia de duas formas de machos na mesma especie, talvez possa não ser um phenomeno muito raro, nos animaes em que os machos diffiram grandemente das femeas, em estructura. Porém, só nos que se obtem em abundancia sufficiente, será possivel chegar á convicção de que não temos, ante nós, duas especies differentes, nem animaes de edades diversas. Por minha propria observação, ainda que não muito dilatada, posso dar um segundo exemplo. Elle se refere á um saltão da praia (Orchestia). O animal vive em logares pantanosos, nas proximidades