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KOSMOS

mediana e passa para traz e para fóra, seguindo até o angulo externo da armação oral. Assim, as duas rugas da direita e da esquerda formam, juntas, um triangulo com o vertice virado para frente, — um quebra mar pelo qual a agua fluente da cavidade branchial é affastada da bocca e, reconduzida áquella cavidade.

Em atmosphera muito humida, a provisão d'agua contida na cavidade branchial póde durar horas e, só depois que ella foi gasta, o animal eleva a carapaça, afim de permittir que o ar tenha accesso ás suas branchias, pela parte posterior.

Em Eriphia gonagra, os orificios de entrada da cavidade respiratoria que servem para a respiração aerea, são situados, não, como nos Grapsoidæ, acima, porém atraz do ultimo par de patas, nos lados do abdomen.

FIG. 12 — Entrada posterior da cavidade branchial de Ocypoda rhombea Fab., em tamanho natural; a carapaça e a quarta parte do lado direito foram retirados.

Os celeripedes Espia-Marés (Ocypoda) são animaes exclusivamente terrestres, e apenas resistem por um dia na agua; em um periodo muito mais curto, occorre-lhe um estado de relaxamento completo e cessam todos os seus movimentos voluntarios.[1] N'estes, um mechanismo peculiar nas patas do 3º e 4º pares (fig. 12), é de ha muito conhecido, comquanto, a sua connexão com a cavidade branchial, não tenha sido suspeitada. Estes dous pares de patas, são mais estreitamente proximos do que os restantes; as superficies oppostas das suas juntas basilares (portanto a face posterior do 3º e, a anterior do 4º par) são lisas e polidas, e suas margens supportam denso debrum de pellos longos, sedosos e peculiarmente constituidos (fig. 13). Milne Edwards que, perfeitamente, compara estas superficies, quanto á sua apparencia, com as superficies articulares, pensa que ellas servem para diminuir a fricção entre as duas patas. Considerando esta interpretação, o problema não podia deixar de interjectar, porque tal dispositivo para minorar a fricção seria necessario á estes carangueijos especiaes e entre estas duas patas, deixando fóra de consideração o facto de que as notaveis escovas de pellos, as quaes, ao contrario, de vem augmentar essa fricção, tambem ficariam inexplicaveis. Porém, estando eu mexendo com as patas de um grande Espia-Maré, para lá e para cá, em varias direcções, afim de ver em que movimentos do animal, teria logar a fricção no ponto indicado e, se estes poderiam, talvez, ser movimentos de particular importancia para elle e como isto se daria, notei, quando esticava as ditas patas, separando-as grandemente, na cavidade entre ellas, um orificio redondo, de consideravel tamanho, pelo qual não só o ar poderia facilmente introduzir-se na cavidade branchial, como por elle poderia ser passada uma vara de pequenas dimensões. O orificio se abre na cavidade branchial por traz d'um lobo conico, que fica acima da terceira pata no logar d'una branchia ausente nos Ocypoda. Elle é limitado lateralmente por cristas, que se elevam acima da articulação das patas, e ás quaes se applica a margem inferior da carapaça.

FIG. 13 — Pontas de alguns dos pellos da junta basilar da pata, augmentadas de 45 decimetros.

Exteriormente, tambem, ella é recoberta por essas cristas, com excepção de uma estreita fenda. Esta é sobrepujada pela carapaça que, exactamente n'esta parte se projecta mais para baixo do que em qualquer outra; e assim fica formado um tubo completo. Enquanto em Grapsus a agua só consegue chegar ás branchias pela frente, em Ocypoda eu a vi ahi chegar pelo orificio agora descripto.

Na posição do orificio de entrada posterior e concomitantes peculiaridades do 3º e 4º pares de patas, duas outras especies não aquaticas da mesma familia, que eu tive a opportunidade de examinar, se assemellam á Ocypoda. Uma d'ellas, talvez, Gelasimus vocans que vive nos bréjos dos mangaes, e que guarnece a entrada da sua tóca com uma espessa chaminé cylindrica, de muitas pollegadas de altura, tem as escovas das juntas basilares das patas em questão, compostas de pellos ordinarios. A outra. — um Gelasimus menor, não descripto na «Historia Natural dos Crustaceos» de Milne Edwards e que, prefere logares mais seccos, não receiando correr na areia ardente, sob os raios verticaes do sol de meio dia. em Dezembro; e póde tambem supportar a immersão n'agua, ao menos por muitas semanas, – assemelha-se á Ocypoda em ter essas


  1. Como isto tão era observado no mar, porém n'um vaso de vidros contendo agua do mar, poder-so-hia suppor que os animas se tornassem exhauridos e morressem não porque estivessem debaixo d'agua mas porque tivessem gsto todo o oxygeneo que ella continha. Por isso, eu puz dentro da mesma agua, da qual acabava de retirar um inerte Ocypoda. Já com as pernas mallemente penduradas, um especimen de (texto ilegível) que fôra reduzida ao mesmo estado por ter sido mantido no ar, e esta restabeleceu-se n'agha do mesmo modo que o Ocypoda no ar.