Página:Revista do Brasil, 1917, anno II, v V, n 17.pdf/69

Wikisource, a biblioteca livre
O CORVO

57

XVIII

E o corvo permanece em perpetua estadia,
Sinistro a repousar, do marmore, á brancura.
Quem o contempla assim pela verdade jura
Que algum sonho feroz no aspecto se annuncia.

E' um demonio a sonhar sonhos que o inferno cria
E que lhe enrijam mais a rija catadura,
Tal o fulgôr do olhar que os olhos lhe allumia
E com que a propria sombra elle sondar procura.

Essa sombra que a luz da lampada suspensa
Faz reflectir no chão, qual atra nuvem densa,
No mesmo chão negreja em linhas sepulchraes:

E desse ambito negro, esse ambito de sombra,
Minha alma que da dor da saudade se assombra,
Nunca mais sahirá! Nunca mais! Nunca mais!