LUCIA
OU
A MENINA DO NARIZINHO ARREBITADO
POR MONTEIRO LOBATO
(Fragmento)
A nossa literatura infantil tem sido, com poucas excepções, pobrissima de arte, e cheia de artificio, — fria, desengraçada, pretenciosa. Ler algumas paginas de certos "livros de leitura", equivale, para rapazinhos espertos, a uma vaccina preventiva contra os livros futuros. Esvae-se o desejo de procurar emoções em letra de fôrma; contrae-se o horror do impresso... Felizmente, esboça-se uma reacção salutar. Puros homens de letras voltam-se para o genero, tão nobre, por ventura mais nobre do que qualquer outro. Entre esses figura Monteiro Lobato, que publicou em lindo album illustrado o conto da "Menina do narizinho arrebitado", e agora o vai ampliando de novos episodios, alguns dos quaes se reproduzem aqui.
O ENTERRO DA VESPA
FOI ao escurecer. O leitão rabicó, já de barriga cheia, roncava no chiqueirinho sonhando arvores que dessem espigas de milho em vez de fructas. E Narizinho, num canto da sala de jantar, vestia na boneca uma saia nova, de pintas azues, feita pela tia Anastacia.
— Não estou gostando... murmurava Emilia que era muito luxenta em materia de vestidos. Está pensa e além disso muito apertada no cós.
— Alarga-se o cós, remediou a menina.
— Depois, continuou Emilia, de nariz torcido, já disse que não gosto desta moda de babadinhos. Fico velha e feia, tal qual uma perúa choca.
— Enjoada!...