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Página:Revista do Brasil, 1921, anno VI, v XVI, n 61.pdf/85

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LUCIA
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Emquanto assim conversavam as duas, em baixo da jaboticabeira grande se reuniam amigos e parentes da vespa machucada.

Pobre vespa! Muito tempo ficou no chão, moribunda, movendo lentamente ora uma perninha ora outra. Por fim encolheu as pernas todas e immobilizou-se, morta. E agora vinham amigos e parentes a cuidar do enterro.

Quatro formigas pretas ergueram no ferrão o seu triste corpinho inteiriçado e foram-se com elle a caminho do cemiterio.

Atrás dellas um louva-a-deus de mãos postas seguia, rezando — ora pro nobis, dominus vobiscum — no latim lá dos insectos.

E assim chegaram ao cemiterio onde uma paquinha coveira acabava de abrir a cova. As formigas depuzeram na cova a defunta e começavam a cobrir o corpo de terra — quando appareceu, esbaforido, um besouro de sobrecasaca e chapeu-canudo, com as tiras de um discurso na munheca. O illustre figurão era o orador official do Instituto Historico dos Escaravelhos, sabio de grande fama na Besourolandia, mas um peroba de marca! Principiou a falar, com citações de mil autores e muitas phrases latinas. Falou, falou, e como não acabasse mais de falar, o louva-a-deus, impaciente, arrolhou-lhe a bocca com um toquinho de páo.

As formigas aproveitaram o lance para encher a cova e collocar em cima da terra um pedregulho redondo com esta inscripção:

Aqui jaz
uma pobre vespa assassinada
na flor dos annos
pela Menina do Narizinho Arrebitado.
Orae por ella !

Feito o que, cada um tratou de raspar-se para as respectivas tocas, depressinha, antes que a noite viesse. Porque então appareceriam os morcegos malvados que caçam sem dó todos os insectos