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PARCERIAS ESTRATÉGICAS - NÚMERO 17 - SETEMBRO/2003

Hotel Trocadero. Os relógios marcavam 6:30 horas da manhã. Paris viu e ouviu o acidente e ficou sem fôlego. Os bombeiros do Posto de Passy saíram para o resgate e encontraram o inventor preso a 15m de altura junto aos destroços do balão, comandando o seu próprio salvamento. Assim que se viu em terra, ao verificar que havia perdido o dirigível 5, fez questão de testar o motor na frente de todos os presentes. Demonstrava, assim que o sistema propulsor era confiável, mesmo após tão grave queda. E no mesmo dia anunciou que o seu próximo dirigível estaria sendo construído já naquela tarde. De fato, em somente 22 dias, o nº 6 estava pronto e iniciava seus testes. Em agradecimento aos bombeiros, Santos Dumont dirigiu uma carta ao comandante do regimento de Paris.

Sua popularidade só crescia. Havia divulgado uma nota ao povo de Paris que desejava concorrer ao prêmio Deutsch para mostrar que era possível se dirigir com segurança um balão, e não pelo dinheiro, pois este ele dividiria, caso viesse a ser o vencedor, em duas partes iguais: uma para seus mecânicos, homens dedicados, fiéis e competentes, e a outra para os operários que por razões diversas haviam empenhado suas ferramentas de trabalho. Além disso, considerando o desafio proposto por Deutsch muito difícil, Santos Dumont havia proposto um prêmio para aquele que conseguisse fazer um vôo idêntico ao do grande prêmio, mas sem limite para o tempo de vôo. Com atitudes como estas, além de sua participação na vida social da capital francesa, a figura de Santos Dumont ganhava terreno. Era, sem dúvida, uma pessoa conhecida, respeitada e querida. Todos apreciavam as suas maneiras e seu senso de humor: “Sou Santos, peso 51kg sem meus sapatos, mas com minhas luvas”[1].

Já em setembro iniciou os vôos de teste com o seu sexto dirigível, quase uma cópia do anterior. Em 19 de setembro foi pego de surpresa: “Encarei sempre com muita filosofia os acidentes deste gênero: vejo neles uma espécie de garantia contra outros mais terríveis. Se tivesse um conselho a dar aos que praticam o dirigível, diria: ‘Permanecei perto da terra’. O lugar de uma aeronave não é nas grandes altitudes. Mais vale fisgar-se nos galhos das árvores, como fiz no Bosque de Bolonha, que se expor aos perigos das regiões elevadas, sem a menor vantagem prática”[2].

Em 19 de outubro de 1901, o dia amanhecera ruim, mas mesmo assim

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  1. Prendergast, Curtis. 1981. Les prémiers aviateurs. Éditions Time-Life. Amsterdam. 176pp. P.26.
  2. Santos Dumont, Alberto. 1973. Os meus balões. Biblioteca do Exército Editora. Rio de Janeiro. 260pp. P. 177.