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Henrique Lins

traiçoeiras correntes não desviassem um aparelho voador? Santos Dumont demonstrou o seu novo dirigível para membros da Comissão, entre eles Langley, secretário geral do Smithsonian Institution e que estava desenvolvendo o seu aeroplano Aerodrome com financiamento do governo dos Estados Unidos. O dirigível 4 evoluiu e causou uma excelente impressão, e estava cada vez mais claro que o prêmio Deutsch seria ganho pelo inventor brasileiro, talvez ainda naquele ano, exceto se algum imprevisto surgisse pela frente. E o imprevisto apareceu sem demora: o inventor caiu doente. Seguiu para Nice, mas não parou as suas atividades.

“Como uma idéia traz outra, imaginei algo de inteiramente novo em aeronáutica. Por que não utilizar as cordas de piano também para todas as suspensões do dirigível, em lugar das cordas e cabos utilizados até aí pelos aeróstatos?”[1]. Com isso reduziu o peso e o arrasto, pois “constatou-se que as cordas de suspensão opõem ao ar quase tanta resistência quanto o próprio balão”[2]. Além disso, projetou e construiu uma nova quilha muito leve e resistente o que o levou a pensar em um novo balão, com uma nova instalação para motor, novo sistema direcional e novas soluções para a distribuição dos contrapesos. Assim nasceu o seu no 5, um dirigível idealizado para ganhar o prêmio Deutsch. Pronto, logo foi apresentado ao público. Fez os vôos de teste, evoluiu com segurança e, mais do que nunca, a opinião pública não só acreditou que Santos Dumont estava pronto para ganhar o grande prêmio, como na dirigibilidade de balões estava resolvida. Seus vôos, de fato, impressionavam. Em 12 de julho de 1901 realizou um grande vôo, permanecendo muito tempo no ar.

Em 13 de julho, seguindo as normas do Aeroclube, tentou o prêmio, com a comissão de especialistas devidamente a postos. Uma pane interrompeu o vôo, e em 8 de agosto tentou novamente. Seu excepcional vôo estava sendo observado por toda Paris. O balão avançou firme na direção da torre, contornou-a sem hesitação, e iniciou o vôo de volta ao Campo de Aerostação. Ultrapassou o rio Sena, e quando passava sobre o Trocadero, nova pane. Mas agora um problema mais sério que o anterior. O balão perdeu gás e sem pressão, perdeu a forma. A hélice cortou os cabos e o conjunto explodiu. Santos Dumont, a quilha, o cesto e o que restava do balão despencaram de uma altura de uns 32m e se engancharam na parede lateral do grande prédio do

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  1. Santos Dumont, Alberto. 1973. Os meus balões. Biblioteca do Exército. RJ. 260pp. P. 151.
  2. Idem