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Henrique Lins

1908. Modo de cronometragem e de arbitragem como o precedente. 3) O senhor F. Charron e o marquês de Dion apostaram 5 mil francos contra os senhores Archdeacon e Santos Dumont que eles não verão antes de 10 de fevereiro de 1908 um aeroplano voar a distância de 500m sem tocar a terra”[1].

Santos Dumont imediatamente projetou e construiu um deslizador aquático, espécie de lancha de corridas com uma hélice de avião acionada por um motor de 100CV. Mas, como se estivesse ainda preso à idéia do vôo, submerso encontravam-se as asas e o leme de profundidade. Trata-se, sem dúvida, de uma abordagem genial, em que ele substituiu o ar pela água e pôde concluir o papel das diferentes partes de um avião. O seu projeto 18 foi pouco testado, mas parece ter fornecido o elemento que faltava para ele entender a configuração adequada para um avião.

Em pouco tempo apresentou o seu nº 19, que ficou conhecido como Demoiselle ou Libélula. Um diminuto avião, entelado em seda, com uma rudimentar fuselagem de bambu e um motor de dois cilindros opostos, projeto de Santos Dumont. O primeiro monoplano bem sucedido da história. Voou em novembro de 1907.

Em um espaço de cerca de um ano Santos Dumont havia mudado por completo a concepção do avião. Sua contribuição foi imediatamente seguida por todos os outros inventores que, nesta época, já começavam a realizar pequenos vôos.

No ano seguinte, Santos Dumont parecia ter se afastado do campo de provas. Em 13 de janeiro de 1908, seu amigo Henri Farman ganhou o prêmio Deutsch-Archdeacon de 50 mil francos ao conseguir realizar o primeiro vôo homologado de 1km em circuito fechado. Em agosto, os irmãos Wright começaram a realizar demonstrações públicas: Wilbur na França e Orville nos Estados Unidos. Só então divulgaram a fotografia do vôo de 1903. Seus vôos foram apreciados e todos concordaram que o avião tinha um desempenho melhor do que os demais, embora necessitasse de uma catapulta para decolar. Santos Dumont não viu as demonstrações de Wilbur e simplesmente declarou: “É com enternecido contentamento que eu acompanho o domínio dos ares pelo homem: é o meu sonho que se realiza”[2].

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  1. Doncières, René. Les nouveaux Santos-Dumont. 1907. La Nature, no 1796. 26/10/1906. P. 344.
  2. Santos Dumont, Alberto. 1918.O que eu vi o que nós veremos. Edição do Autor. Petrópolis. 100pp. P. 66.