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Henrique Lins

servatório de Artes e Ofícios de Paris, Henrique Dumont, e de D. Francisca de Paula Santos. Henrique Dumont, filho de franceses, havia assumido a empreitada de construção do prolongamento da Estrada de Ferro Central do Brasil e permaneceu em Cabangu por pouco tempo. Em 1877, Santos Dumont foi batizado na Paróquia de Santa Teresa, em Valença, Rio de Janeiro, mas em 1879 a família já estava em Ribeirão Preto, onde o patriarca adquiriu a fazenda de Arindeúva e passou a dedicar-se ao plantio de café utilizando técnicas mecanizadas e construindo um ramal ferroviário para o escoamento da produção. A infância do jovem Alberto ocorreu no meio das diferentes máquinas utilizadas na maior fazenda de café do Brasil e, no período de 1883 a 1885, no colégio Culto à Ciência em Campinas, São Paulo. Familiarizou-se com as máquinas da fazenda e com os locomóveis e locomotivas Baldwin que mantinham o Ramal Dumont em atividade.

Em 1888 viu, pela primeira vez, um balão esférico durante uma feira em São Paulo, e, como todos os presentes, ficou impressionado com a demonstração. Em abril de 1891 embarcou para Paris com a família. Seu pai havia sofrido um grave acidente e viajava para a Europa a fim de buscar tratamento. Voltaram em novembro, mas logo a saúde do pai agravou-se e, em maio de 1892, a família retornou a Paris. Logo antes do embarque seu pai emancipou-o e deixou uma carta que aconselhava o filho a viver em Paris e se aprofundar nos estudos da mecânica, química e eletricidade, pois nestas áreas é que estava o futuro do mundo.

O agravamento da saúde do Dr. Henrique fez com que este voltasse para o Rio, onde veio a falecer em 30 de agosto, enquanto Alberto seguiu para a capital francesa. Sua estada na França foi curta e em 6 de dezembro retornava ao Rio para uma permanência muito curta e logo em janeiro de 1893 já voltava para a França e iniciava seu período de formação, tendo como preceptor um certo Professor Garcia, de origem espanhola, que o introduziu nas disciplinas técnicas. No ano seguinte realizou estudos na Universidade de Bristol, na Inglaterra. Em 1897 terminava o seu período de formação, sem nunca ter obtido um grau superior e retornou para uma breve estada no Brasil. Seu colega deste período, Agenor Barbosa, lembrou anos mais tarde: “Aluno pouco aplicado, ou melhor, nada estudioso para as ‘teorias’, mas de admirável talento prático e mecânico e, desde aí, revelando-se, em tudo, de gênio inventivo”[1].

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  1. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.Vol. LVI. 1959. P.171.