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PARCERIAS ESTRATÉGICAS - NÚMERO 17 - SETEMBRO/2003

Ao retornar a Paris leu o livro “Andrée - Au Pôle Nord en ballon” escrito pelos construtores, Henri Lachambre e Aléxis Machuron, sobre o balão Öern (Águia), de Salomon-Auguste Andrée, Nils Strinberg e Knud Fraenkel. Os três aeronautas suecos pretendiam atingir o Pólo Norte por ar, mas a viagem acabou em catástrofe.

Impressionado com o relato dos construtores e com os livros de Júlio Verne, sua decisão de voar tomou corpo. Imediatamente procurou os construtores de balões e realizou sua primeira ascensão em 23 de março de 1898. Este vôo ficou marcado na lembrança: “... eu levantei vôo pela primeira vez num balão esférico, como passageiro do Sr. Machuron, que justamente havia retornado de Spitzbergen. Ele havia ido para lá para inflar o balão de Andrée e deixou o impetuoso sueco pronto para a partida com os seus dois companheiros de desastre” [1].

O vôo custou-lhe 400 francos e o seu fascínio foi imediato. A sensação de calma assim que o balão subiu acompanhando as correntes de ar, aliada ao silêncio das alturas, só cortado por alguns sons peculiares, como o latido dos cães ou os sinos das igrejas tocando o Ângelus ao meio-dia, ficaram gravados em sua memória. “Eu nunca me esquecerei do genuíno prazer de minha primeira ascensão em balão”[2].

Realizou diversas outras ascensões, aprendeu a arte do vôo em balão e em junho já havia realizado cinco vôos. Os conhecimentos obtidos permitiram que ele projetasse e mandasse construir um balão para seu uso. O menor balão esférico que poderia ser construído, com apenas 113 metros cúbicos de hidrogênio. Para ter sucesso Santos Dumont introduziu diversos aperfeiçoamentos, reduzindo o peso de cada um dos seus componentes por meio do uso de novos materiais até então nunca utilizados na aerostação. Usou seda japonesa para o invólucro, reduziu o tamanho do cesto e o peso das cordas da rede e do cabo-pendente, até obter um aparelho que pesava somente 27,5 kg, sem o aeronauta. Para garantir a estabilidade instalou o cesto numa posição bem abaixo do balão. Faltava um nome: “Terminada a pesagem, Madame H..., que me deu a honra de ser a madrinha, aproximou-se do esquife aéreo e disse: ´Brasil te chamarás, serás feliz, voarás nos ares e que Deus o proteja´”[3]. Em 4 de julho fez a primeira ascensão. Depois voou várias

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  1. Santos Dumont, Alberto. 1902. How I becamee an Aëronaut and my experiences with air-ships. McClure’s Magazine, vol. XIX. August 1902.
  2. Santos Dumont, Alberto. 1905. The pleasure of ballooning. The Independent. June 1905. 1225-1232.
  3. Nicolaou, Stéphane. 1997. Santos-Dumont, dandy et génie de l’aéronautique. ETAI. Musée de l’Air et de l’Espace. Le Bourget. 112pp. P. 13.