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Henrique Lins

vezes, compreendeu o seu comportamento, analisou as respostas do aparelho, e construiu um segundo balão, o Les Amériques, bem maior e capaz de realizar vôos com convidados. Mas o vôo ao sabor do vento não lhe parecia satisfatório. Era preciso poder controlar o aparelho no ar e para tanto era necessário instalar um motor eficiente.

A partir daí Santos Dumont voltou-se inteiramente para o vôo mecânico, como lembra Agenor Barbosa: “A sua idéia fixou-se-lhe na aviação desde quando os ‘motores a explosão’ começaram a ter êxito. Até aí, era um simples esportista, de proezas aéreas e depois um motorista imprudente... que corria desabaladamente, pela manhã, pelas avenidas do Bosque de Bolonha. A nossa roda era o Pedro Araújo e Fernando Chaves e depois o Antonio Prado Júnior – todos seus amigos cordiais”[1].

Já nesta época estava claro para Santos Dumont que era necessário despertar o interesse do público em torno da questão do vôo. A construção de protótipos, os testes necessários, o estudo de novos materiais e o treinamento de pessoal exigia que houvesse um real interesse por parte dos governos e da indústria. Como o vôo ainda era uma fantasia, o governo era, na visão do inventor, o único capaz de assumir os gastos para o desenvolvimento de novos inventos e para tanto a opinião pública teria um papel essencial no crescimento da aviação. Esta situação pode ser vista no caso de Júlio César Ribeiro de Souza, paraense que estudou a dirigibilidade de balões ainda na década de 1880.

Em 1881, acompanhado pelo senador Candido Mendes de Almeida, Júlio César procurou o Barão de Teffé, então diretor geral da Repartição de Hidrografia, para apresentar sua teoria revolucionária sobre o vôo. O senador fez as apresentações de praxe e introduziu o inventor:

“- O Sr. Ribeiro de Souza é o inventor d´uma teoria que há de agitar o mundo científico, e é esse invento que deseja submeter à apreciação dos doutos da Capital do Império; ora, como sou completamente alheio ao objeto de tais estudos, venho pedir-lhe que patrocine a sua descoberta no círculo matemático do Instituto Politécnico.

- Oh! Senhor senador; trata-se por ventura da quadratura do círculo ou

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  1. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Vol. LVI. 1959. P.171.