Fora a noite ia esplêndida, fresca e de lua. A estrada, muito branca, insinuava-se pelo arvoredo e perdia-se nas sombras quietas. O caboclo lançou os olhos ao céu estrelado onde a lua brilhava e, passando o cajado pelas costas, à altura dos ombros, vergou os braços sobre ele deixando as mãos pendentes e pôs-se a caminho, precedido pelo cão que seguia com o focinho baixo, em ziguezagues, a fariscar a erva e o pó.
Era grande o silêncio e as sombras das árvores, que se despejavam sobre a estrada, tornavam-na, por vezes, negra, mas logo adiante, a lua reaparecia alva, alumiando o caminho. Vozes estranhas, longínquas, tomaram-lhe a atenção e ele, que ia pensando em coisas vagas, tão distraído que nem dera pelo cachimbo que se apagara, levantou a cabeça e escutou; eram sapos em uma lagoa.
De vez em quando estalava uma palma seca, uma folha voava para a estrada fechando, na claridade do luar, uma sombra dura, e insetos ziziavam na erva rasteira. Mandovi fez uma volta repentina e olhou para traz como se quisesse ver a venda de Manezinho, já encoberta pelo arvoredo, puxou forte pelo cachimbo e, sentindo-se apagado, tirou o isqueiro e feriu lume. Pôs-se, de novo, a caminho e, para distrair-se, enquanto atravessava aquelas solidões, chamou o cão:
– Eh! Tigre véio, ocê vai vendo o caminho? É esse memo, Tigre véio.
O cão, ouvindo o seu nome, retrocedeu aos saltos, ganindo. Águas rolavam na mata que beirava a estrada com um fresco murmúrio e, pouco adiante, uma velha ponte, feita de grossos troncos, cruzava o córrego