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alta e loira, que retirava n’esse momento das brazas o tacho da sopa.

II

Havia dez annos que o Manuel Cherne enviuvára.

Encontrára a eompanheira agonisante, em uma manhã de outono, ao recolher da pesca aos linguados. Ficaram-lhe duas filhas: Maria Perpetua, mulher de um gageiro, que nunea mais regressára dos Brazis; e Severina, uma ereança de 15 annos, franzina, delicada e branea, eomo uma poetica deseendente de lords.

— Uma dôr d'alma, esta enfézadinha! lamentava frequentes vezes o velho, sopesando o saerifieio imposto por uma bôea, e eomparando-o á miseria de trabalho que se poderia esperar d'esse pobre eorpo anemieo. Maria Perpetua, ralada de saudades e esfalfada de mourejar de sol a sol, eaíra em uma tisica, que lhe ia minando lentamente a vida.

O seu homem, ao abalar-se por esses mares fóra, deixára-lhe nos braços tres ereanças, um moeito e duas moeinhas; mas a Maria Perpetua via-se grega eom a lida da casa, porque em vez de tres tinha einco filhos, sendo o mais velho o pae e o mais novo a irmã.

Luetou em quanto pôde; afinal, quedou-se pregada na cama, d'onde a levantaram para o cemiterio.

O Manuel Cherne estarreceu.

Que havia de ser d'elle, a eontas com esses quatro innocentes?

Quem lhe cuidaria do amanho da casa, em quanto andasse pelas aguas do mar?