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O Silvestre nascêra em Grandola e viera, ainda pequenote, para Sines.

O pae, caseiro do conde de B., quizera encaminhal-o para a lavoira.

Mas o rapaz morria-se pelo mar; as ondas exerciam no seu temperamento de marinheiro innato, a suggestiva attrecção de uma earieia voluptuosa, offereeida por uma amante inaeeessivel. Fugiu para easa do tio; e um bello dia, sem eonsultar ninguem, pediu ao Manuel Cherne que o levasse na canoa, deelarando-lhe que queria ser peseador.

Na tarde em que falleecu a Maria Perpetua, o Silvestre fôra offerecer os seus serviços á menina Severina.

Uma subita e irresistivel sympathia, feita de intimas affinidades, apparentemente incompativeis, deelarou-se logo entre esse robusto moeetão, bronzeado pelas brizas maritimas, e essa franzina rapariga, esguia, delieada e branea, eomo uma estatueta de marfim.

Em as noites de verão, prateadas pelo luar, que punha na larga superficie do oceano como que uma doee e mysteriosa elaridade de sonho, o Silvestre vinha assentar-se no baneo, fronteiro á porta do Manuel Cherne, onde se rcunia toda a familia, e ahi conversava eom a Severina.

Elle, timido e desastrado, limitava-se a contar-lhe os episodios da pesea, não ousando nunca alludir ao segredo que havia tanto escondia no eoração, nem dizer uma só das palavras que lhe affuiam eonvulsivamente aos labios.

Ella, serena e despreoecupada, ouvia-o e sorria-lhe com o scu mcigo sorriso, vagamente doloroso.