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SONETOS
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II

Mas o velho tyranno solitario,
De coração austero e endurecido,
Que um dia, de enjoado ou distrahido,
Deixou matar seu filho no Calvario,

Surriu com rir extranho, ouvindo o vario
Tumultuoso côro e alarido
Do povo insipiente, que, atrevido,
Erguia a voz em grita ao seu sacrario:

«— Vanitas vanitatum! (disse). É certo
Que o homem vão medita mil mudanças,
Sem achar mais do que erro e desacerto.

«Muito antes de nascerem vossos paes
Dum barro vil, ridiculas creanças,
Sabia eu tudo isso... e muito mais! —»