Página:Sonhos d'ouro (Volume I).djvu/63

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filó. O doente parecia uma criança; estendendo a mão para tomar-lhe o pulso, sentiu o médico um pelo macio; aproximou a vela e então distinguiu perfeitamente uma cachorrinha, deitada em travesseiros de cetim e coberta com uma colcha de damasco.

— Será exato isto?

— Asseguro-te que é. Faze ideia do como ficou o doutor, arrancado à sua casa à uma hora da noite, e rebaixado do seu pedestal de médico do que há de mais ilustre e elevado na corte, a médico de cão. Se a graça fosse de qualquer outra pessoa, ele decerto não a suportaria; mas era de uma moça bonita. O velho assentou que o melhor meio de sair-se do caso era levá-lo em tom de galhofa... “Ah! É sua maninha?” disse ele. Examinou com uma gravidade cômica o doente, pediu papel e receitou neste gosto: “Récipe: Uso interno: Maçada — 2 oit. Capricho de criança — 1 onça. Misture e faça infusão para tomar às colheres de hora em hora. Uso externo: Gargalhada — 3 oitavas. Paciência — 1 libra. Faça uma fomentação. Para a Sr.a