Página:Sonhos d'ouro (Volume II).djvu/245

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E o moço ficava enlevado a admirar a esplêndida formosura, não podendo crer que Deus houvesse formado aquela sublime criatura e a conservasse imaculada no regaço do céu, para enviá-la de repente a ele, como um anjo, que o inundasse de felicidade. Mas interrompendo um instante o afã, ajoelhava para admirar a peregrina imagem.

“Erguei-vos, dizia-lhe a moça. Meu senhor não há de calcar o pó da terra. Tenho riquezas sem conta para dar-lhe. Quero ser querida em um palácio, entre as magnificências do luxo, cercada de tudo quanto seduz e deslumbra. Quero ser amada assim para que, no meio de todos esses esplendores, ele só busque meus olhos, só deseje meu sorriso.”

Desfraldando as asas, a imaginação de Ricardo bordou sobre o gracioso tema um desses arabescos orientais, cheios de encantamentos e fascinações, como são os contos árabes.

Quando ele surpreendeu-se no meio desse devaneio, teve um remordimento; e para fugir aos enlevos da fantasia, asilou-se nas recordações das