Página:Sonhos d'ouro (Volume II).djvu/246

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puras afeições da família e dos santos amores de sua infância.

Tomou a pena e escreveu a Bela a carta que esta lera à janela, na hora da ave-maria; depois conversou longamente com sua mãe, em duas folhas de papel, renovando as reminiscências dos tempos que tinham passado juntos em São Paulo antes da separação.

No dia seguinte recomeçou Ricardo a lida do escritório; e o trabalho, que é o mais forte detersivo do coração, apagou os vestígios da alucinação que sofrera. Todavia, quando alguma circunstância lhe recordava Guida, sentia-se o mancebo tomado por um terror indizível, e estremecia com a ideia de cair outra vez no sonho, ou antes no pesadelo d'ouro, que já uma vez fizera presa nele.

Antes de findar a semana, estando Ricardo em seu escritório, recebeu do carteiro sua correspondência de São Paulo. Dentro da carta de D. Benvinda, que dava notícias de todos os seus, achou uma de Bela; e guardou-a para a ler em casa, a sós, sem risco de o interromperem.