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Página:Sonhos d'ouro (Volume II).djvu/43

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Ao cabo de um mês não nos poderíamos ver; e faríamos um do outro a mais triste ideia.

Ricardo ocupado em trocar os selins dos cavalos, ouvia impassível essa loquela. Reprimida a primeira contrariedade, conseguira dominar-se e estava resolvido a não interromper a moça; que melhor meio de apagar o fogo àquele despeito feminino?

Passeando de um para outro lado, Guida falava, abatendo com a chibata os largos rofos da saia de montar; na ida e vinda lançava a Ricardo um olhar impaciente por causa do silêncio com que ele a escutava.

— Não sabe o conceito que havíamos de fazer um do outro?

— Não, senhora.

— Eu lhe digo; mas permita que nos substitua por outros quaisquer para haver mais franqueza. O herói do romance teria a heroína na conta de uma criatura sem alma, nem coração; espécie de mulher de ouro, para quem o sentimento é cálculo, e que só conhece uma linguagem, a moeda. A heroína consideraria o salvador como um presunçoso, que aproveitara-se