Página:Suspiros poéticos e saudades (1865).djvu/291

Wikisource, a biblioteca livre


Ah! porventura a lira abandonada,
Que rota e muda jaz de pó coberta,
Porventura ainda vive?
A lira morre, quando mais não soa,
Morre, quando, estalando a última corda,
Evapora o seu último soluço.

Assim sou eu sobre a terra;
É minha alma como a lira,
Que morre, quando não geme;
Que vive, quando suspira.

Como vive o proscrito em riba estranha?
No pensamento apenas,
Nos quadros de sua alma, tristes quadros,
Como a noite sem lua, e sem estrelas;
Quadros nublosos, pela mão traçados
Da pálida Saudade.
Oh mundo, oh mundo, exílio de minha alma!
Vida, cruel tirano que me prendes!

O que é a vida? Um contínuo
Passar das trevas à aurora;