Página:Suspiros poéticos e saudades (1865).djvu/61

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É a Deus, só a Deus, que tu refletes,
Como do sol a luz reflete a lua.

Nas barreiras da morte tudo esbarra,
Menos o homem, que atravessa airoso,
Aí o mortal corpo abandonando,
Para no seio entrar da Eternidade;
Assim o viajor o pó sacode,
E deixa o companheiro de viagem
Manto todo coberto de poeira,
Quando à cidade desejada chega.
A alma não morre, porque Deus não morre.

Assaz, oh Deus, o homem sobre a terra
Revela teu poder, tua grandeza.
A Razão, és tu mesmo; — a liberdade,
Com que prendaste o homem, não, não pode
Dominar a Razão, que te proclama!
Se muda para mim fosse a Natu,
Na Razão que me aclara, e não é minha,
Senhor, tua existência eu descobrira.

Eu te venero, oh Deus da Humanidade!
Meu amor o que tem para ofertar-te?