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A LIÇÃO DE VIOLÃO

Como de habito, Polycarpo Quaresma, mais conhecido por major Quaresma, bateu em casa ás 4 e 15 da tarde. Havia mais de vinte annos que isso acontecia. Sahindo do Arsenal de Guerra, onde era sub-secretario, bongava pelas confeitarias algumas frutas, comprava um queijo, ás vezes, e sempre o pão da padaria franceza.

Não gastava nesses passos nem mesmo uma hora, de fórma que, ás 3 e 40, por ahi assim, tomava o bonde, sem erro de um minuto, ia pizar a soleira da porta de sua casa, numa rua afastada de S. Januario, bem exactamente ás 4 e 15, como se fosse a apparição de um astro, um eclypse, emfim um phenomeno mathematicamente determinado, previsto e predito.

A vizinhança já lhe conhecia os habitos e tanto que, na casa do Capitão Cláudio, onde era costume jantar-se ahi pelas quatro e meia, logo que o viam passar, a dona gritava á criada: « Alice, olha que são horas; o Major Quaresma já passou ».

E era assim todos os dias, ha quasi trinta annos. Vivendo em casa própria e tendo outros rendimentos além do seu ordenado, o major Quaresma podia levar um trem de vida superior aos seus recursos burocraticos, gozando, por parte da vizinhança, da consideração e respeito de homem abastado